Conduzi o Alfa Romeo 33 Stradale. Não deixem de sonhar

Há lugares onde a história do automóvel se faz em silêncio e secretismo. A pista de teste de Balocco e a sala storica da Alfa Romeo são bons exemplos. Dois locais que tive oportunidade de visitar antes de conduzir o novo Alfa Romeo 33 Stradale. O supercarro da marca italiana pelo qual milhões de aficionados esperaram durante quase seis décadas.

Agora está de volta, não como réplica mas como renascimento. Foi das experiências mais marcantes que já vivi. Daquelas onde sinto que as palavras não são suficientes — mais por limitação do vosso escriba do que da língua de Camões, sem dúvida.

Felizmente, registámos tudo em vídeo no nosso canal de Youtube. Uma viagem que terminou em Itália mas que começou onde nascem quase todos os sonhos: na nossa infância.

Não é uma cópia. É um renascimento

Vão ser produzidas apenas 33 unidades do novo Alfa Romeo 33 Stradale. Escusado será dizer que já têm todas destino. Preço? Mais de um milhões e meio de euros — antes de impostos.

Mas qual é o valor real de um supercarro pelo qual esperámos quase 60 anos? Não se trata de uma cópia, mas de um renascimento.

Concebido em 1967 por Franco Scaglione, o 33 original é considerado uma obra-prima do design automóvel, símbolo da transição entre o mundo da competição e a estrada. Forma e função. Como disse no vídeo, não sei se é o carro mais belo de todos os tempos, mas… tem alma.

Cada exemplar do 33 Stradale é construído pela Carrozzeria Touring Superleggera, numa abordagem que recupera o espírito dos grandes ateliers italianos do século XX.

O processo começa com a chegada do “body-in-white” em carbono e alumínio, que é depois meticulosamente trabalhado: o tejadilho é o primeiro elemento a ser fixado, servindo de referência para toda a montagem. As superfícies exteriores são pré-ajustadas com moldes de precisão, garantindo alinhamentos milimétricos.

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A pintura, realizada manualmente em Arese, é aplicada em três fases e pode demorar mais de um mês, dada a necessidade de uniformizar a tonalidade entre superfícies de materiais diferentes.

O resultado é precisamente aquele que se espera de um carro da marca italiana, sobretudo quando tem o nome 33: que a experiência de condução continue, mesmo parado.

Dito isto, a base técnica pode ser a mesma do Maserati MC20, mas a forma como chegamos ao produto final é distinta. Os detalhes contam e aqui valem mais de 2 milhões de euros: é o preço da exclusividade.

O coração de um supercarro é o motor

Sob carroçaria italiana, bate um coração mecânico — estava prevista uma versão 100% elétrica mas nenhum dos futuros proprietários optou por essa configuração.

O V6 biturbo de 3.0 litros, derivado do bloco do Giulia Quadrifoglio e cuja origem remonta à Ferrari, foi profundamente revisto: mais de 620 cv de potência, uma entrega linear e um som que mistura a rudeza metálica do 33 clássico com a progressividade que apenas a engenharia moderna permite.

A velocidade máxima é de 333 km/h — adivinhem porquê… — e a aceleração dos 0-100 km/h demora três segundos. Poderia demorar mais 0,3 segundos, mas parece que este motor não tem tempo a perder.

A forma como sobe de rotação e está casado com a caixa automática de oito velocidades está próxima da perfeição. É uma obra de arte mecânica dentro de outra obra de arte.

Homem e máquina não é história

Conduzir o 33 Stradale não é uma experiência intimidante. Tinha tudo para ser assim… quando temos mais de 600 cv entregues ao eixo traseiro. Isso e o peso da responsabilidade de estar a lidar com mais de 1,5 milhões de euros a velocidades que em qualquer pequena reta superam largamente os 200 km/h.

A afinação do chassis, da direção e do sistema de vetorização de binário criam uma ligação instintiva que nos deixam imediatamente em casa. A traseira começa a soltar-se, os pneus começam a gritar e os nervos dos responsáveis da Alfa Romeo começam a subir.

Correu tudo bem, com exceção de um pneu furado, mesmo no final da minha ronda de testes no circuito de Balloco. Mais uma história para contar, das muitas que guardarei para contar aqui na Razão Automóvel. Há experiências cuja magnitude só conseguimos alcançar volvidos alguns meses.

Mas aquela «lengalenga» da ligação homem-máquina aqui é uma realidade. Esta tudo certo, afinado da forma certa, com peso adequado e com a resposta esperada. Tudo isto traduz-se em níveis de confiança que, pelos motivos que já enunciei, mereciam um pouco mais de cautela. A culpa é vossa Alfa Romeo. É um supercarro analógico na era digital.

Um tributo aos nossos sonhos

Acabou por não ser um teste normal. O Alfa Romeo 33 Stradale está longe de estar nessa categoria, seja qual for o critério em apreço. É por isso que neste vídeo tentámos ir um pouco mais longe.

O convite chegou com poucas semanas de antecedência e, perante aquilo que estava a acontecer — o renascimento de um supercarro da Alfa Romeo após várias décadas — mobilizámos a nossa equipa ao máximo.

Foi aí que o Diogo Teixeira teve a ideia sobre a qual gravitou toda esta experiência: evocar a criança que já fomos, que sonhava com automóveis. Neste vídeo, essa criança tem um nome, que só revelamos no final… mas na verdade essa criança somos todos nós, amantes de automóveis.

A Alfa Romeo teve coragem de lançar novamente um supercarro, por isso não estamos sozinhos. Continuamos a sonhar.

Guilherme Costa

Desde muito cedo trocou a companhia dos brinquedos pelas revistas de automóveis. Alimentado por essa paixão em 2012 fundou a Razão Automóvel.

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